TITO ROSA MONTEIRO





 

"Um guardador de saudades"


Castelo de Palmela -Tinta da China - Maio de 1996

Tito Rosa Monteiro nasceu e cresceu em Palmela onde cedo começou a desenhar e a pintar. Sempre o conheci a colaborar e é por demais conhecido esse seu trabalho,
como cenógrafo,criador de motivos decorativos para as iluminações de Natal na cidade de Lisboa no ano de 1966. 
Concebeu e realizou o Torneio Medieval e Cortejo Histórico alusivo às Comemorações do Oitavo Foral da Vila de Palmela no ano de 1985.  Concebeu e dirigiu os Cortejos Alegóricos nas Festas das Vindimas de Palmela de1964 a 1994, etc.

No ano de 1997, a direcção da Associação Académica Pinhalnovense, solicitou a colaboração de Tito Monteiro para uma exposição que tinha a finalidade de mostrar pinturas da sua autoria. Como é seu apanágio o Tito deu todo o contributo que podia dispensar.

A exposição englobada na comemoração do 41ª aniversário da Académica, com o título
«SÓ SE LEMBRA DOS CAMINHOS VELHOS QUEM TEM SAUDADES DA TERRA» 
realizou-se entre 8 e 10 de Junho de 1997 em Pinhal Novo e contou com dezassete originais da sua autoria , entre os quais estavam dois trabalhos dedicados a Pinhal Novo, intitulados
«O LARGO» e «O CAMINHO DE FERRO».
Não apresentamos qualquer cópia dos ditos porque os mesmos são propriedade do Crédito Agrícola  - Caixa de Entre Tejo e Sado, Delegação de Pinhal Novo que na altura foram cedidos a título de empréstimo pela mencionada entidade.

O catálogo da exposição abria com uma apreciação sobre Tito Monteiro,da autoria de Anibal de Sousa:

Tito Monteiro é um palmelense emérito a quem o reconhecimento popular guindou já ao galarim das imagens de marca locais: a fruta; o vinho; o castelo e uma gesta de inconfundíveis figuras que amam a sua terra e parece que não vivem para outra coisa que senão para a sublimar.
Não é apenas um pintor, nem apenas palmelão, nem os «caminhos velhos» que redime, são apenas da sua terra.

Tito Monteiro, é um guardador de saudades, pastor de pinceladas serenas e traços finos e límpidos. Arquitecto de plácidas maravilhas, não tem pressa a não ser de salvar a memória generosa dos seus devaneios juvenis.

A aguarela é uma alquimia fresca por onde espreitam portais, fontanários e caminhos velhos. Desertos e silenciosos, mas íntimos, por isso,e acolhedores: melhor convidam, assim, a uma pausa urgente e redentora".
                                                                                                                                                               
Portal da Quinta do Zé Ratinho - Samouco,Palmela
aguarela de 1993
Em certa altura de tempos passados, mais concretamente em Novembro de 2008,  Tito Monteiro  convidou-me e a outros  dois amigos para nos deslocarmos a sua casa para a prova de um moscatel.
Como será imaginável a prova do moscatel decorreu acompanhada de conversa a condizer e quando estava no seu auge - é sempre assim - eram horas de terminarmos o encontro e voltarmos para casa com o sabor do precioso  néctar que havíamos saboreado.

Na altura da despedida fui surpreendido
com a oferta de uma cópia de um trabalho do Tito datado de 1996 - é a cópia que se encontra no início desta crónica -   com uma dedicatória  que só à extrema amabilidade do anfitrião é devida.
Uma menção  de tamanho significado  que compara o nome de alguém que jamais será igualado, apesar de muito do seu trabalho ter sido plagiado por outros que depois dele desempenharam o mesmo cargo.


Apesar de poucas certezas haver para se poder escrever sobre a  biografia desse alguém,  o seu trabalho é conhecido de muitos portugueses. Esse seu trabalho  é algo de muita monta; direi mesmo, que é um feito que se pode comparar às coisas de enorme valor que os nossos antepassados nos legaram.
Foi o primeiro cronista mor do Reino de Portugal, um homem que nos deixou a história dos primeiros Reis de Portugal.
Certamente que a sua infância terá ocorrido num tempo muito importante, crucial mesmo, para a independência de Portugal.
D.Fernando havia morrido em Outubro de 1383 e ficou como Regente a viúva Leonor Teles  que estava grávida, dizendo-se à boca  cheia, segundo Fernão Lopes, que o filho era de João Fernandes Andeiro e não do marido acabado de falecer.   Foi num cenário de intriga e guerra com Castela e também com portugueses que se bandearam para o lado de Leonor Teles e do rei de Castela Juan l que decorreram durante cerca de 5 anos tendo nesse tempo aparecido D.Nuno Álvares Pereira - que desde os treze anos era aio de Leonor Teles - e que,ao lado de D.João, Mestre de Avis acabaram com as dúvidas sobre quem deveria ser rei de Portugal tendo derrotado o exército castelhano em Aljubarrota na tarde de 14 de Agosto de 1385,e depois para tirar as dúvidas a última batalha em Valverde nos dias 15 e 16 de Outubro do mesmo ano de 1835.
Vencida a batalha de Valverde, a batalha contra os castelhanos ficou reduzida a escaramuças de fronteira sem grande importância, e o Mestre de Avis, subiu ao poder como El-rei D.João I.


Fernão Lopes (c.1380 - c.1460) Cronista do Reino, é considerado o primeiro prosador e o primeiro historiador português. Foi secretário de D.João l e de D. Duarte e escreveu as Crónicas dos Reis D. Pedro, D. Fernando e parte da de D.João l.

Pouco ou nada se sabe dos seus primeiros quarenta anos de vida.
Estava ao serviço do Rei e Corte em 29 de Novembro de 1418, como conservador do Arquivo Geral do Reino, lugar que desempenhava desde o reinado de D.Fernando, ocupando uma das torres do castelo de São Jorge de Lisboa. Em 12 de Dezembro de 1418, intitula-se escrivão dos livros de D.Duarte pois o Infante fora associado ao governo do Reino, mas também por um documento  de 14 de Março de 1419, Fernão Lopes exerceu o mesmo cargo ao serviço de D.João l.
A partir de 1422 é escrivão da Puridade,isto é,secretário e  homem de confiança do Infante D.Fernando, tendo redigido o testamento deste Infante em 18 de Agosto de 1437. Em 1434 D. Duarte havia-lhe conferido ordenado anual pelo seu trabalho de cronista para escrever a Crónica Geral do Reino de Portugal, tudo levando a crer que escreveu a história de Portugal desde a fundação do reino e as crónicas de todos os seus Reis até D. João I, inclusive,embora essas crónicas tenham chegado até nós na forma em que ele as redigiu sem terem sido impressas.
 A velhice afastou-o da Torre do Tombo em 1451-52, sendo substituído por Gomes Eanes de Azurara.

No Pequeno Dicionário de Autores de Língua Portuguesa (edição reservada aos AMIGOS DO LIVRO) da autoria de Fernanda Frazão e Maria Filomena Boavida
está escrito no respeitante a Fernão Lopes;

                                                                                           Rua do Passadiço, Palmela. Aguarela de 1993
"Considerado justamente por muitos o pai da historiografia portuguesa, pois, ao invés do que então era uso, não se limitou a compilar memórias, indo investigar os factos nas suas fontes documentais e submetendo a tradição a uma análise crítica, Fernão Lopes foi também a maior personalidade da literatura medieval portuguesa, um escritor com excepcionais qualidades de artista, que nos forneceu uma torrente de episódios, ambientes e figuras onde o interesse se centra na gente que se move e faz mover as coisas".


Voltando à dedicatória de Tito  Monteiro :

"Para o Fernão Lopes do Pinhal Novo, o meu amigo Cebola".

Como essa figura da História também sou português.
E conforme escreveram Fernanda Frazão e Maria Boavida, sobre Fernão Lopes, também não me limito a copiar memórias e sempre tento 'investigar' dentro das possibilidades que vou encontrando, os factos nas suas fontes documentais. Para além disso, nada mais posso  almejar de comparável a tão notável português.

Um abraço para o  amigo Tito.
                                                                                                                                       
 José Manuel Cebola, Julho de 2015






1 comentário:

  1. Grandes artistas e homens de bem que felizmente temos tido à nossa volta. Gostei imenso desta tua explicação e informação sobre este grande nome que merece toda a nossa admiração.

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