UMA ESTAÇÃO UMA DATA


QUANDO FOI CONSTRUÍDA A PRIMEIRA ESTAÇÃO DE PINHAL NOVO ?


O projecto inicial da via férrea, que estava prevista ser construída  entre  Aldeia Galega e Vendas Novas não previa a sua passagem  por este nosso sítio.  Mas sendo  o terminal alterado para Barreiro, essa mudança do traçado da via,  permitiu que “o comboio” viesse dar vida a uma charneca que se situava no extremo Oeste da sesmaria da Lagoa da Palha.


Primeira estação. Construção em alvenaria com as dimensões de 22,20 X 6,70 metros.
Era composto o seu interior; por cantina, restaurante, habitação para o pessoal do restaurante, sala do chefe, sala do telégrafo e habitação do chefe. A frente da estação era virada a Sul. Na foto, a parede onde está escrito o topónimo PINHAL NOVO, era virada  para Nascente.
Esta estação seria alterada no seu comprimento em mais 12 metros, nos finais do século XIX.
O projecto para alteração tem a data de 6 de Dezembro de 1895.

Uma observação, para desmistificar algumas afirmações que por vezes se ouvem sobre a primeira estação ferroviária de Pinhal Novo. Essas memórias, reportam-se a meados dos anos 30 do século XX e, confunde-se uma situação de demolição da estação para ser substituída por outra. Enquanto decorreram as obras, uma provisória em madeira foi montada, para que tudo continuasse a funcionar. Como se poderá ler mais à frente, no relatório do caminho de ferro relativo ao ano de 1863, - sobre as estações de Pinhal Novo e Setúbal - está escrito que "são constituídas por telheiros menos decentes", donde se pode concluir que na época haviam telheiros, apesar de, no relatório da exploração emitido no Barreiro em Fevereiro de 1863, referentes aos anos de 1861 e 1862  estar mencionado; "é quase uma charneca pegada  que liga as estações de Pinhal Novo, Poceirão, Pegões e Vendas Novas". 
A extensão de Barreiro a Vendas Novas

A carta de Lei de 7 de Agosto de 1854, previa que a construção do primeiro troço a sul do Tejo, tivesse início em Aldeia Galega e terminasse em Vendas Novas. Joaquim António de Aguiar (que na época possuía uma quinta no Alto do Paiva no Lavradio e que já havia sido Presidente do conselho de ministros), insistiu junto do governo e conseguiu que o projecto inicial fosse alterado.
Em 26 de Agosto de 1854, saiu um decreto aprovando um contrato adicional em que contemplava o Barreiro como terminal.

Em 11 de Setembro de 1855, a Companhia dos Caminhos de Ferro do Sul do Tejo, iniciou os trabalhos.
A extensão de Barreiro a Vendas Novas foi entregue à circulação a 31 de Maio de 1858 e, em 1 de Fevereiro de 1861, foi entregue à exploração juntamente com o ramal de Pinhal Novo a Setúbal.

Relatório da Exploração - Caminho de ferro do Sul, no ano de 1862.
"A administração deste caminho foi-nos confiada em 7 de Agosto de 1861. 
O caminho de ferro do sul conta 69:390 metros, sendo 56: 414 metros na linha principal e 12:985 no ramal de Setúbal.
Saindo do Barreiro, encontram-se, ao norte da linha e a pequena distância desta, as povoações do Lavradio, Alhos Vedros e Moita. Deste ponto até Vendas Novas, isto é, numa extensão de 48:664 metros, não se depara com povoação alguma, e apenas se vêem pequenas casas isoladas, que são as habitações dos colonos a quem se deve o cultivo dos terrenos adjacentes. O tracto de terreno que se atravessa está pela maior parte inculto; é quase uma charneca continuada que liga as estações do Pinhal Novo, Poceirão, Pegões e Vendas Novas.
Foram os trabalhadores chamados à construção da via-férrea do Sul, os primeiros colonos que se estabeleceram junto do Pinhal Novo. Depois vieram outros, quase todos do distrito de Aveiro, atraídos pelas vantagens que então se lhes ofereceram"(...).
Barreiro, 19 de Fevereiro de 1863.

 Relatório da Exploração - Caminho de ferro do Sul, no ano de 1863.
(…) "talvez se possa notar o termos dado precedência à estação provisória de Lisboa, havendo ainda a construir as estações de Setúbal e Pinhal Novo, constituídas actualmente por telheiros menos decentes, e sem as demais condições exigidas numa estação do caminho de ferro. Devemos porém observar que nunca deixámos de reconhecer a necessidade de dotar Setúbal com uma estação digna dessa cidade, bem como criar no Pinhal Novo as comodidades exigidas numa estação de entroncamento",(…)
Barreiro, 17 de Maio de 1864.

Diário da Câmara dos deputados, de 23 de Abril de 1864. 
Contrato provisório celebrado com o súbdito britânico Alfredo Cowan, na qualidade de procurador e representante da Companhia do caminho de ferro de sueste em Portugal, para a compra do caminho de ferro do Barreiro a Vendas Novas, com o ramal de Setúbal, e a construção de uma linha de Beja para o Algarve (…)

Aos 21 dias do mês de Abril de 1864, neste ministério das Obras Públicas (...)
Art. 8º - A construir no prazo de dois anos, uma estação no Pinhal Novo.

Diário da Câmara dos deputados,  de 09 de Maio de 1864.
O deputado J.A. de Sousa, respondendo ao deputado Pinto Araújo, que havia feito algumas considerações contra a construção do caminho de ferro no Alentejo e Algarve.
(…) "Mas permita-me o ilustre deputado que lhe observe, que se tivesse o incómodo de ir ao outro lado do Tejo, e visse, como muito bem notou o nosso colega Almeida Bívar, na sessão de sábado, a colonização que lá se acha estabelecida desde o Barreiro até ao Pinhal Novo, devido ao caminho de ferro; se visse matos incultos, charnecas inóspitas reduzidas hoje a campos magníficos, produzindo belo trigo, batatas e toda a qualidade de cereais; se visse em lugar de ermos, duzentos casais ou mais, com belas casas, tudo devido ao caminho-de-ferro, talvez se não animasse a vir combater a construção deles naquela província".

O Rei D. Luís e o projecto para a primeira estação ferroviária em Pinhal Novo.
Em Dezembro de 1864, o  Conselho de Obras Públicas enviou o seu  parecer sobre o projecto para a estação de Pinhal Novo, propondo a aprovação do mesmo. 

Senhor;
"Foi presente ao conselho das Obras Públicas o projecto da Estação do Pinhal Novo submetido à approvação de Vossa Magestade pelo empresa do caminho de ferro de Sueste.
O Fiscal na sua informação expõe que a Estação proposta pode satisfazer ás necessidades actuais do serviço (...)
O conselho das Obras Públicas concordando com o parecer do Engenheiro Fiscal, é de parecer que o projecto da Estação do Pinhal Novo pode ser approvado (…) 
Este é o parecer do conselho das Obras Públicas mas Vossa Magestade resolverá o que julgar por melhor" (...).
Sala do conselho das Obras Públicas em 9 de Dezembro de 1864.

Diário da Câmara dos deputados, de 03 de Agosto de 1868.
Pode ler-se uma intervenção do deputado Faria Blanc, a propósito do projecto para a construção da ponte do Mexilhoeiro e ramal do Lavradio. O deputado achou o preço exagerado e comparou com o custo da estação de  Pinhal Novo.

"A estação de Pinhal Novo, completamente nova, e debaixo de todos os pontos de vista adoptada para um entroncamento, custou apenas 9:183$759 réis";(...) 

Portanto em 3 de Agosto de 1868, a estação de Pinhal Novo já estava feita.

Com base no prazo de dois anos, estabelecido no contrato de 21 de  Abril de 1864, e o discurso de
Faria Blanc na Câmara dos deputados em Agosto de 1868, é possível apontar  para a construção da estação entre os anos de 1866 e 1868.  

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No ano de 2001, de 8 a 14 de Junho, na Biblioteca Municipal de Pinhal Novo, esteve patente uma exposição «Pinhal Novo e Ferroviários, Caminhos do Futuro»  organizada pela Comissão de Festas e CEC- Clube de Entusiastas do Caminho de Ferro. No folheto de apresentação pode ler-se na 2ª página:
"A Estação de Pinhal Novo - O primitivo edifício (tipo barracão) foi demolido em 17-Julho-1933. De seguida iniciou-se a construção de um novo edifício de passageiros" (...)!

Nota final: É certo que o edifício que foi demolido em 1933, era a primeira estação em alvenaria, com as alterações que entretanto sofreu nos finais do século XIX. Olhando a foto que encima este apontamento não é fácil crer que fosse um barracão.
Alguém acredita que tenha sido necessário  que o engenheiro fiscal, Sebastião de Canto e Castro Mascarenhas, o Conselho geral de Obras Públicas e Minas e o Rei D. Luís, tivessem que concordar para que  se construísse um "barracão" que iria servir  de estação em Pinhal Novo? !

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Comboio no desvio da estação de Valdera (foto de M.G. da Silva)

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