PETRÓLEO EM PINHAL NOVO



Aventura petrolífera


No ano de 1946, começaram no distrito de Setúbal, os estudos geológicos para aquilatar das zonas onde poderiam existir indícios de petróleo, que valesse a pena explorar.
No Pinhal Novo, a norte da Herdade de Monte Novo, os estudos indicavam esse espaço como sendo um local onde poderia existir o tal ouro negro.



No ano de 1955, chegou à redacção do jornal «República» uma pequena notícia, que dava conta de um furo de prospecção petrolífera em Pinhal Novo que já se encontrava à profundidade de 1100 metros tendo-se encontrado nesse patamar potássio e sal-gema. A notícia era de tal modo optimista, que o jornal resolveu enviar um repórter para poder contar ao país o que se estava a passar de tão fora do comum, numa terra que para além de ser o maior entroncamento ferroviário do sul do país e ter também mensalmente o maior mercado do sul do país, nada mais oferecia de novidade a quem por qualquer acidente de percurso aqui chegava.
Quando o repórter chegou à estação dos caminhos-de-ferro, esperavam-no três habitantes com o propósito de o levarem ao local da prospecção petrolifera. Eram eles, Manuel Jesus da Silva, o seu filho Manuel Veríssimo da Silva, acompanhados de Francisco Joaquim Baptista correspondente do jornal «República» em Pinhal Novo.
Depois das apresentações, os quatro, tomaram lugar no velho calhambeque de Manuel Veríssimo, e lá partiram em direcção à Herdade de Monte Novo, com destino ao furo petrolífero, de onde se dizia que muito brevemente o petróleo jorraria sem parar.
Á medida que o carro 'entrava' por aquela região, de planície, de solo arenoso e vegetação raquítica, entre a qual se viam alguns chaparros e outros pequenos arbustos, o jornalista ia imaginando que já conhecera aquela paisagem, que todavia, nunca havia pisado antes; certamente que algumas reminiscências cinematográficas de cenários parecidos.E essas impressões do jornalista confirmaram-se quando viu ao longe a tomar forma, uma enorme torre de ferro e aço, erguida no descampado, semelhante a um monstro disforme.
Enquanto o pequeno automóvel avançava, custosamente, levantando nuvens de poeira, através de um caminho rudimentar aberto pelos homens da mina, o jornalista ia ouvindo a história que os seus companheiros de viagem lhe iam contando.Disseram-lhe que o petróleo era desde há meses, o assunto obrigatório de todas as conversas em Pinhal Novo.
Os mais idosos, ainda duvidavam das virtudes daquela ciclópida torre de aço e olhavam com estranheza os homens que chegaram doutras terras.
Os novos, pelo contrário, encaravam o problema de maneira mais adequada às concepções da época que viviam. Para eles, o petróleo significava riqueza  e progresso .

No acampamento dos mineiros

Enfim, lá chegaram ao acampamento dos mineiros. Em redor da torre, onde trabalhavam alguns homens de rostos enfarruscados e com as cabeças protegidas com sólidos capacetes, na missão contínua de levarem sempre mais fundo a sonda que já se encontrava nos 1600 metros. Alinhavam-se veículos automóveis e 'barracas' desmontáveis, de uma arquitectura um tanto americanizada. Depois de deixarem o carro, dirigiram-se a um funcionário e disseram ao que iam. Foram encaminhados para um individuo alto e alourado. Tratava-se do engenheiro americano Lawrence Torres, de aspecto sóbrio e cortês, com aquela expressão peculiar a quem já viu muito mundo e, sobretudo, inúmeros poços de petróleo. Quebrada a surpresa dos primeiros momentos, utilizando o seu melhor sorriso, o engenheiro deu todos os informes que lhe foram solicitados, numa linguagem que era um misto de inglês e de espanhol. Pouco depois, chegaram dois jovens engenheiros portugueses, Ângelo Rodrigues e Ferreira de Almeida, que intervieram na conversa, facilitando as coisas. Ficou então a saber-se que reinava um grande optimismo no acampamento.O petróleo ainda não havia surgido, mas poderia aparecer a qualquer momento. Sendo perguntado  como era possível estarem tão confiantes, e se não consideravam  desanimadora a falta de vestígios a uma tão grande profundidade, logo o nosso amigo americano esclareceu na sua pitoresca linguagem; o petróleo aparece em qualquer nível. Tanto borbulha, em alguns sítios à superfície, como pode esconder-se a 50, 100, 1000 ou 3000 metros. 
- Mas porque escolheram este lugar para a tentativa? 
- Devido a estudos geofísicos oportunamente realizados. Através desses trabalhos, tudo leva a crer na existência de petróleo nesta zona. Por esse facto, foi estabelecido em Fevereiro último, (1955) um contracto de exploração entre a Companhia dos Petróleos de Portugal e a Saconny - Vaccum. 
Finalmente foi feito o agradecimento ao engenheiro pela disponibilidade que dedicou ao inesperado grupo, que no regresso da Herdade de Monte Novo, vinha contente e esperançado, mercê da confiança demonstrada pelo americano e pelos seus camaradas portugueses.
Cerca de quatro anos depois, os homens da exploração de petróleo acabaram por desistir, 'porque os indícios encontrados não davam garantia de bons resultados de exploração, em virtude das quantidades encontradas. o que parece existir em quantidade, é sal-gema que um dia poderá ser alvo de exploração'. 
Ti Zé Eloi
O petróleo não apareceu ou, era pouco.Mas algo de bom apareceu para todos nós. Foi a fixação em Pinhal Novo de um motorista da empresa de exploração que trocou a sua ocupação na empresa do petróleo pela criação de um posto de táxi e passou a ser o taxista (julgo que o primeiro cá na terra) sempre ao alcance de todos. Disponível para os jovens que aos fins de semana e não só, se deslocavam aos bailaricos nas redondezas. Boas recordações que nos deixou o Ti  Zé Eloi. Algarvio que por aqui fez amizades e que havia nascido num dia de Agosto de 1903 em Alcaria do João, Alte, tendo tido como primeira ocupação, guardador de ovelhas. Também na sua juventude foi pegador de toiros. O desempenho como taxista iniciou-o no Estoril no ano de 1928. De todos conhecido e amigo, foi figura estimada na terra. Faleceu em Lisboa em Julho de 1976.


 JoséManuelCebolaDezembro de 2017

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