O CAMPO DE FUTEBOL


Entre o Campo das Covinhas e o Santos Jorge


Conforme testemunhos que chegaram até aos dias de hoje, “sabe-se” que o primeiro local onde se praticou futebol, foi no largo onde se realizava o mercado.
Podemos imaginar que seria um campo onde as balizas só seriam montadas por altura do jogo.Esse campo de futebol terá começado a ser utilizado a partir  de 1910. 
Depois deste, outros campos se seguiram.
Um campo frente ao pátio das escolas, o campo das peixarias, o das adegas, o das covinhas e o actual.

A baliza que se vê ficaria a sueste. À direita pode ver-se o armazém da CP.
No espaço entre a baliza e o armazém, nota-se o suporte dos semáforos.
A mancha escura por detrás da baliza, eram os eucaliptos que ficavam
junto ao matadouro. A zona onde se encontram os futebolistas, é hoje a parte sul
da avenida Alexandre Herculano.

No  ano de 1945,  não existia futebol oficial em Pinhal Novo, e a Câmara de  Palmela tencionava urbanizar a zona situada a norte do largo onde acontecia o mercado mensal.


O campo das covinhas,  situava-se precisamente no espaço a ser urbanizado o que implicava  a sua extinção.
Por esses tempos, o utilizador do campo era o União Futebol Clube Pinhalnovense e, apesar de não disputar na altura provas oficiais, tinha a intenção de brevemente entrar no campeonato distrital. 
Foi feito um abaixo-assinado encabeçado pelo presidente da Junta de Freguesia, Sebastião Lopes, e enviado à Câmara Municipal de Palmela a solicitar terreno para construir um campo de futebol.

Livro de actas da Câmara Municipal de Palmela nº 10, de 1945, pág. 158 verso e seguintes .

"Aos onze dias do mês de Julho de mil novecentos e quarenta e cinco, nesta vila de Palmela e edifício dos Paços do Concelho, pelas quinze horas e trinta minutos, achando-se presentes os Excelentíssimos Senhores: Venâncio da Costa Lima, presidente; Manuel João de Lima Simões; Rodrigo Rosa; Manuel Agostinho Loureiro e Afonso Ramos, vereadores, foi lido:

(...) Ofício número cinquenta, de vinte e seis de Junho findo, do presidente da Junta de Freguesia de Pinhal Novo, remetendo uma exposição subscrita por alguns proprietários e comerciantes daquela localidade, a qual, traduz a vontade de todos os habitantes daquela freguesia, acerca da existência do campo de foot-ball  que pretendem criar e a construir no terreno do bairro Santos Jorge, em Pinhal Novo.
Considerando a pretensão absolutamente justa, a Câmara delibera por unanimidade, ceder por arrendamento, uma faixa de terreno a estabelecer, sita no bairro Santos Jorge, em Pinhal Novo, pela renda anual de vinte escudos, com a obrigação de ali ser construído um campo de foot-ball e outros desportos, de harmonia com o respectivo projecto a apresentar nesta Câmara, para efeito de aprovação. Mais delibera que este arrendamento seja feito pelo prazo de trinta anos”.

Terreno, embora alugado já havia. Era preciso deitar mãos à obra. O entusiasmo era grande e o União F.C.P. queria entrar no campeonato da Associação de Futebol de Setúbal.

O ofício do União F.C.P. nº 91 de 15 de Agosto de 1945 enviado ao Secretário Geral da Associação expressa esse desejo:

"Desejando este Clube jogar esta época o campeonato de futebol, informamos a V.Exa. que o nosso campo tem o nome “Campo Santos Jorge” e que fica situado no bairro Santos Jorge em Pinhal Novo. Por motivo de obras só poderemos nele jogar na segunda volta do campeonato.
Rogando a V.Exa. que nos concedam autorização para fazermos todos os jogos da 1ª volta no campo dos nossos adversários. 

A cor da nossa “equipa”, é azul e branca ás riscas verticais sendo o calção azul-escuro.

A bem do desporto.
O presidente  Augusto dos Santos Júnior.

Assembleia-geral do União F.C.P.
26 de Setembro de 1945

Aberta a sessão, foi pelo senhor presidente da Assembleia-geral, pedido que se lesse o expediente existente, bem como uma carta endereçada pelo senhor presidente da direcção, expondo as razões que levaram a solicitar a convocação da referida Assembleia.
O presidente da Assembleia, concedeu de imediato a palavra ao 1º secretário, senhor Manuel Gonçalves, que em nome da direcção expôs aos sócios o que havia sido tratado sobre a aquisição de terreno para a construção do campo de futebol.
Depois de enumerar determinados factos, em que focou especialmente a boa vontade dos digníssimos vereadores da Câmara Municipal de Palmela, dando apoio incondicional ás aspirações do Clube, relatou pormenorizadamente quais as condições em que a Câmara podia ceder terreno para o fim desejado.
Continuando, disse o orador que a Câmara Municipal era forçada a estipular uma renda anual, visto as leis da Nação, impedirem que qualquer Câmara ceda, tanto a título precário ou definitivo a entidades particulares, terreno ou outros quaisqueres bens do património Nacional.
Assim, esclareceu, ficou acordado entre a Câmara Municipal de Palmela e o União, a cedência do terreno indispensável para o fim em vista, sendo o arrendamento feito pelo espaço de trinta anos, com a renda anual de vinte escudos.
(Esta assembleia-geral, aconteceu dois meses após a resolução da Câmara em alugar o terreno para a construção do campo)

Assembleia-geral do União F.C.P.
18 de Janeiro de 1946
Destinada à eleição de novos corpos gerentes.
Antes da eleição, foi apresentada uma proposta para a aprovação de uma comissão que iria encarregar-se das obras do novo campo de futebol.
Essa comissão foi composta por:
Manuel Rodrigues Gonçalves, Francisco Joaquim Baptista e Álvaro José Tavares.
Após ter entrado em actividade, a Comissão para a Construção do Campo, emitiu títulos de empréstimo no valor nominal de 100$00.

O campo  ficaria em condições de ser utilizado em meados de 1947.
No dia 1 de Fevereiro de 1948, O União recebeu o Avenida Futebol Clube do Montijo, para mais um jogo do campeonato.
Algo se passou no jogo com o Avenida, porque um ofício do União datado desse dia 1 de Fevereiro de 1948, e dirigido à Comissão Administrativa da A.F.S. informava de ocorrências graves após esse jogo.


O que se passou? 
Já o jogo tinha terminado e o corpo da Polícia de Setúbal, com a delicadeza que usavam naqueles tempos, quis dispersar os assistentes que sempre iam ficando um pouco mais a comentar as peripécias do jogo. Como a coisa não estava a decorrer como  o   sub-chefe da polícia queria, ele mesmo, tentou malhar com o cassetete num espectador, e de pronto começou a "batalha". 
Os senhores da Associação de Futebol de Setúbal,  não tiveram dúvidas. 
Se foi entre a polícia e os espectadores, então a culpa foi do União Futebol Clube Pinhalnovense!


Parte da acta nº 54 de 3 de Fevereiro de 1948. 
Estiveram presentes nessa reunião da Comissão Administrativa da Associação de Futebol de Setúbal, presidida pelo doutor José Maria Cardoso Ferreira os senhores Carlos do Nascimento Ramaldes, Adriano de Gonçalves Morais Júnior e Francisco de Paula Santana Júnior.
A reunião iniciou-se ás 21 horas e encerrou às 23 horas.
Note-se a rapidez com que esta Comissão tratou de assunto tão grave e onde tantos pinhalnovenses estiveram empenhados para darem o melhor pela sua terra.
(Se recordarmos, - ver «O Futebol em Pinhal Novo 1» de Maio de 2014 - já nos anos 20 do século XX, haviam os senhores dirigentes de Setúbal tomado atitudes muito prejudiciais para com a equipa de futebol do tal pitoresco lugarejo de Pinhal Novo, como escrevia o Semanário República de 19 de Julho de 1913).


O campo foi usado em provas oficiais, menos de um ano. 
Nos finais dos anos 40, já começara a germinar a intenção pela parte do União FCP, de fusão com a Sociedade Recreativa Literária e Musical. A Sociedade era uma colectividade que viveria em condições financeiras razoáveis e além disso tinha uma sede que era a melhor que existia na aldeia. O "assalto" concretizou-se através de uma assembleia facilitada pela militância dos sócios que o eram na sua grande maioria das duas colectividades.
Essa fusão concretizou-se em 5 de Agosto desse ano de 1948, e dela nasceu o  Clube Desportivo Pinhalnovense.
Todavia, aquilo que os Unionistas previam em termos de maior suporte financeiro para o clube acabou por falhar. Chegada a época de 1953/54 o clube saído da fusão, CDPinhalnovense,  encontrava-se em situação financeira crítica.
Não tinha actividade oficial e mais grave, a Câmara Municipal de Palmela desejava  apoderar-se da área de terreno, que em 1945 havia alugado pelo período de 30 anos, para a construção de um campo de futebol.

                   O clube apesar da situação aflitiva, quer pagar o aluguer
Em 16 de Julho de 1956, o Clube Desportivo Pinhalnovense, enviou ao presidente da Câmara de Palmela, o ofício 19/56, onde solicitava informação para a data provável em que poderia liquidar a importância referente ao arrendamento do campo de jogos.

“Apresentando a V.Exª. respeitosos cumprimentos, a direcção do Clube Desportivo Pinhalnovense, vem por este meio rogar se digne informar qual a data provável em que este Clube poderá liquidar a importância referente ao arrendamento do seu campo de jogos e respeitante ao ano em curso.
Como deve ser do conhecimento de V.Exª.,já por mais de uma vez esta direcção pretendeu satisfazer essa importância, tendo-lhe sido respondido verbalmente que oportunamente seria recebido o respectivo aviso de pagamento o que até à data não se verificou”.
Aguardando as dignas providências de V.Exª. nos subscrevemos.
O secretário;  Manuel Frederico Branco de Oliveira

A Câmara adia o recebimento
Resposta da Câmara Municipal de Palmela.
Ofício nº 760, Lº. Nº 21, fls. Nº 151.
"Em referência ao assunto de que trata o ofício nº 19/56 do corrente mês, tenho a subida honra de informar V.Exª., que o recebimento da renda do campo de Jogos, se encontra suspenso em virtude de consulta feita superiormente”. 
Palmela e Paços do Concelho, aos 24 de Julho de 1956.
O Vice-presidente da Câmara em exercício; Álvaro de Carvalho Cardoso.




O Pinhalnovense, foi impedido de pagar o aluguer do terreno no ano de 1956, porque o senhorio (Câmara Municipal de Palmela) suspendeu o recebimento da renda, contrariando o que havia ficado exarado em acta da Câmara datada de 11 de Julho de 1945, e confirmado pela certidão passada por Henrique Bernardino da Graça, Chefe da Secretaria da Câmara, em 13 de Setembro de 1945.

Em Março de 1958, a Câmara de Palmela enviou um ofício ao Clube Desportivo, onde informa que, para interesse do Clube, a direcção indique dia e hora em que se poderão deslocar a Palmela, para tomarem conhecimento do despacho da Direcção-geral de Administração Política e Civil do Ministério do Interior, acerca da consulta feita pela Câmara.
Desta comunicação da Câmara, o presidente da direcção do Clube, Darvin Rogado Borges, envia conhecimento para Francisco Joaquim Baptista, pedindo-lhe  aconselhamento que pudesse orientar os passos a dar pelo Clube. O resultado desta troca de informações, é a presença de Francisco Baptista, com a direcção, Álvaro José da Costa Tavares e Manuel Rodrigues Gonçalves, que se deslocaram à Câmara de Palmela, em 18 de Março de 1958, ás 21,30, para conhecimento do parecer do ministro do Interior sobre o terreno onde está o campo de futebol.

No ano de 1964, o Clube inscreveu-se nos campeonatos distritais de Principiantes e de Juniores. No ano de 1965 inscreveu a equipa de seniores, para disputar o campeonato da 2º divisão.
Este reinício de actividade oficial, dá força às razões invocadas pelo Pinhalnovense e o problema do campo, embora não esquecido, fica em “banho Maria”.
E na realidade tudo se viria a compor alguns anos depois.

Cedência do terreno pela Câmara Municipal de Palmela ao Clube Desportivo Pinhalnovense

Foi no ano de 1986 que ficou de vez resolvido o problema, através da escritura datada de 4 de Junho.

Cópia, de parte da escritura lavrada a folhas 101 verso do livro de notas número doze M a folhas três do livro de notas número treze N, para escrituras diversas, deste Cartório e vai conforme o original.
Cartório Privativo do Município de Palmela, aos 6 de Junho de 1986. 
O Notário

"No ano de mil novecentos e oitenta e seis, no mês de Junho , no dia quatro, nos Paços do Concelho de Palmela(...)
Pelo  primeiro outorgante,Sr. António Ferreira da Costa, na qualidade de Presidente da Câmara Municipal de Palmela, foi dito: - Que em nome da Câmara Municipal de Palmela (...) e em execução de deliberação tomada em reunião ordinária de dois de Fevereiro de mil novecentos e setenta e nove, cede, livre de quaisquer ónus ou encargos, ao Clube Desportivo Pinhalnovense (...) uma parcela de terreno onde se encontra instalado o seu campo de futebol, com a área de doze mil quinhentos e dezasseis virgula setenta metros quadrados - (12.516,70 m2) -  descrito na conservatória do Registo Predial de Palmela sob o número dezasseis mil novecentos e setenta e três, a folhas sessenta e sete verso do livro B - cinquenta e dois e omisso na matriz cadastral por não estar sujeito a inscrição matricial "(...)


José Manuel Cebola,Novembro de 2014















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