ERMIDA DA LAGOA DA PALHA

Um Casamento na Ermida da 
Lagoa da Palha  

Quando em 16 de Setembro de 2008  escolhemos para tema na folha que assinavamos no«Jornal do Pinhal Novo»  a Ermida da Lagoa da Palha, pressentimos que muitas pessoas iriam ficar surpreendidas. Diga-se em abono da verdade que também nós ficámos, nos primeiros contactos que tivemos com as provas documentais. Apesar de nessa oportunidade termos transcrito o conteúdo de um registo de baptismo oficial que nos 'falava' da dita Ermida, hoje vamos repetir a cópia do documento.
  • Em vinte cinco de Fevereiro de mil oitocentos e trinta e cinco nesta igreja Matriz de S.Pedro de Palmela baptizou solenemente o padre José Gonçalves Costa a Maria nascida a dezoito de Janeiro, filha de Francisco Salvador e de Mariana Rosa recebidos na Irmida da Alegoa da Palha filial desta dita freguesia (...).
***
Três anos eram passados sobre o terramoto de 1755.
Depois de se ter perdido o valioso trabalho para organizar um «Dicionário Geográfico» cujo mentor fora o padre Luís Cardoso, foi necessário recomeçar com as mesmas perguntas.
Ao padre de S.Pedro de Palmela foi perguntado se:
- «Tem algumas ermidas e de que santos, estão dentro ou fora do lugar e a quem pertencem»?
O padre de Palmela , responde:
- «Tem mais outra Ermida de S.Pedro no sítio de Rio Frio, nas terras de Pedro Alves Cabral de Lacerda, a qual se diz foi fundada por Fernando Cabral, chanceler-mor do Reino, no reinado de D. João IV, distante desta vila duas léguas e administrada pelo mesmo senhorio das ditas terras».
António Matos Fortuna,(Monografia de Palmela nº3 , de 1982) analisou esta informação da seguinte forma:
- «Parece que esta capela não se situava propriamente em Rio Frio, mas em terrenos da mesma propriedade, no sítio da Lagoa da Palha, onde se mantêm alguns restos». 

( Como se pode ler um pouco abaixo, o padre no registo oficial não escreve qual o orago da Ermida. Para além de ser uma  construção particular, o orago seria Nossa Senhora do Livramento, como se intui  do que se escreveu sobre Nossa Senhora do Livramento em Maio de 2014, no Blogger «aquipinhalnovo») 

No ano de 2008, só tínhamos o registo de baptismo de Maria em 25 de Fevereiro de 1835, onde o padre José Gonçalves Costa, anotou que os pais da Maria, Francisco Salvador e Mariana Rosa tinham sido recebidos na ‘Irmida’ de Alegoa da Palha.
Para colher mais elementos, na altura, socorri-me do José António Cabrita que através dos seus valiosos empenhos, conseguiu a ajuda de um padre do Brasil que nos indicou um livro, onde encontrámos a história da Senhora do Livramenta qual julgo esteve directamente ligada com a construção da Ermida.
O que faltava encontrar era o documento que provasse o assento de casamento de Francisco e Mariana.
 Pelas pesquisas inicialmente feitas, parece ter acontecido que o livro de registos de casamentos da freguesia de São Pedro de Palmela entre os anos de 1820 e 1839 não se encontrava online. Entretanto outros temas foram sendo passados e a Ermida, apesar de não esquecida foi ficando um pouco para trás. Passados mais de oito anos sobre o assunto aconteceu o inevitável, porque era correcto o que o padre José Costa havia escrito no registo de baptismo em Fevereiro de 1835..
Em Novembro ou Outubro do passado ano de 2017, numa radiosa manhã, encontro-me com o Maurício Teixeira que após o cumprimento matinal e com um sorriso bem humorado me disse:
- «Encontrei um casamento na Ermida da Lagoa da Palha».
Como não ficar satisfeito. Depois do Maurício me fornecer a localização, confirmei o casamento na Ermida da Lagoa da Palha. Com as ajudas que recebi do Zé Cabrita e do Maurício Teixeira,
as coisas ficaram menos difíceis.
Aqui está a confirmação oficial do casamento que se efectuou na Ermida da Lagoa da Palha.
 Arq. Distr. de Setúbal :   PT-ADSTB-PRQ-PPLM02-002-00009_m0249.tif
«Em 28 de Maio de 1834 na Capela do sítio denominado Algoa da Palha filial desta freguesia, na minha presença e das testemunhas abaixo assinadas na forma do direito se receberam por marido e mulher com palavras de presente Francisco Salvador viúvo que ficou de Maria Felizarda, com Mariana Rosa, solteira, filha de António da Silva e de Vicência Maria natural e baptizada na freguesia do Espírito Santo em Alda Galega. Foram testemunhas António da Silva e José Xavier Coelho de que para constar fiz este termo que assinei».                             O padre Manuel António Branco

Podemos deixar escrito que não era norma que se fizessem casamentos na Ermida. Mas houve pelo menos um. Assim sendo, poderá parecer que houve um ‘privilegiado’. 
Quem terá sido esse cidadão que casou na Ermida da Lagoa da Palha . É esta curiosidade que vai nascendo sempre que se encontra algo de desconhecido na história do nosso sítio que mais aguça o ‘apetite’. O que nos propúnhamos era mostrar a confirmação em documento oficial da existência da Ermida e agora a ‘coisa’ parece ficar incompleta. Temos que saber algo sobre o tal privilegiado, Francisco Salvador.   Algumas respostas obtivemos.
Francisco Salvador foi natural de São Tomé de Mira, onde nasceu no dia 25 de Maio de 1795. O pai chamou-se Manuel Ribeiro Salvador e a mãe Josefa Maria das Neves.
Quando terá chegado por aqui? Que trabalho seria o seu?
Nos registos paroquiais de casamentos ocorridos na Igreja de São Pedro de Palmela, consta que no dia 20 de Junho de 1828, Francisco Salvador, filho de Manuel Ribeiro e de Josefa Maria, contrai matrimónio com Maria Felizarda, filha de Manuel João Serra e de Felizarda Maria, natural e batizada na freguesia de São Pedro de Palmela. Nesse assento de casamento está anotado que o Francisco é morador na freguesia de São Pedro de Palmela.
Sua mulher, Maria Felizarda faleceria com 23 anos incompletos, sendo mais uma das muitas vítimas da cólera morbus que em 1833 assolou o País.
Quando Francisco casou pela segunda vez em 28 de Maio de 1834 (na Lagoa da Palha) tinha a idade de 39 anos. No registo não está anotado ‘o sítio’ onde é morador.
O Francisco Salvador enviuvou e tornou a casar em 3 de Setembro de 1838 com Ana de Jesus, em São Pedro de Palmela.
Ficámos também a saber que o pai de Francisco, Manuel Ribeiro, também natural de Mira do lugar de Portomar, faleceu em 9 de Fevereiro de 1840 e foi sepultado no cemitério da Igreja Matriz de São Pedro. Por esta informação pode escrever-se que ,em determinada altura os pais do Francisco vieram para o nosso sítio, embora não se mencionem as moradas. No ano de 1843, mês de Maio, foi sepultada também em Palmela,Josefa Maria viúva de Manuel Ribeiro.  
Temos notícias de Francisco Salvador, entre o falecimento de seus pais, mais concretamente em 1842.

Dados de uma outra história, que ajudam, e de que maneira.
Nesse ano de 1842, entrou no Tribunal de Setúbal um processo que opunha os litigantes, Dona Antónia Mariana Pereira Coutinho e a Câmara Municipal de Palmela. Em causa estava a posse da sesmaria da Carregueira. Os Louvados indicados por Dona Antónia, chamavam-se Francisco Salvador  e  Manuel Simões Cantante.
No acto de nomeação dos Louvados em 28 de Fevereiro de 1842, escreve o Oficial de diligências a páginas 79 vs. do processo.
(…) “por parte da sua constituinte  (Antónia Mariana  Pereira Coutinho) se louvavam os peritos, Francisco Salvador, caseiro da Sesmaria da Lagoa da Palha e Manuel Simões Cantante, morador na sesmaria de Montinhoso, ambos deste julgado".
Em 20 de Junho de 1842 o oficial teve necessidade de avisar os Louvados da data em que deviam ir prestar juramento, mas não conseguiu contactar com qualquer deles, por não se encontrarem nas suas moradas.
Por esta informação sabemos que nesse ano a  morada de Francisco Salvador era na Aldeia de Quinta do Anjo.
"No dia 1 de Agosto de 1842, na vila de Palmela e Paços do Concelho em pública audiência, presidida pelo cidadão José Fernandes Guimarães Juiz ordinário deste Julgado, aí sendo presentes os Peritos nomeados pela parte da Autora: Francisco Salvador, morador na Quinta do Anjo  e Manuel Simões Cantante no Montinhoso "(…).
Esta história agora aflorada, fica prometida para uma outra oportunidade.

                                                                                                                 JoséManuelCebola Fevereiro de 2018

1 comentário:

  1. http://www.ahsocial.ics.ulisboa.pt/atom/declaracao-de-venda-de-d-antonio-alvares-cabral-correia-de-lacerda-saldanha-de-vinte-milheiros-de-achas-provenientes-da-fazenda-de-rio-frio-herdade-do-rio-frio-manuel-domingues-portugal

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