Associação Académica
Pinhalnovense
1956
Varejos da vida de um clube popular de futebol, que com o correr
dos tempos foi alargando o leque das modalidades praticadas. Este clube que festejou
em Junho passado (10 Junho 2015), 59 anos
de existência, tem no seu historial acontecimentos que dizem muito da
vida do nosso sítio.
Quiseram
os seus ‘progenitores’ que o seu nome de baptismo fosse Associação Académica e a
data da sua Fundação, 10 de Junho de 1956.
Os fundadores foram:
Manuel
Henrique, Manuel Balão, Alberto Ferro, Carlos Carolino, António Ferreira Dias,
José Carlos Ferreira, José Carreira Agostinho, Henrique José, Armindo Simões
Vaz, Bernardino Tomé Galvão e Francisco Mendes.
A Direcção da Académica em 17 de
Novembro de 1957, era composta por:
Presidente- António José Ferreira Dias
Secretário- Henrique José
Tesoureiro- António dos Santos
***
Escreveu
Maurício Teixeira, sobre a criação de clubes populares, no mensal «linha do sul»:
....”Dada a vivacidade de uma geração em
ascendência, a criação de vários e sucessivos clubes populares, o primeiro dos
quais foi a Académica, depois o Juventude, a seguir o Real, e por último o
Botafogo, isto no período de 1956
a 1965...
”Naquele tempo, o símbolo da
verdadeira prática desportiva, desinibida, irreverente, jovem, um tanto
intelectualizada até, era a Associação
Académica de Coimbra. E, é com os olhos postos nesse clube que um grupo de
jovens começa a juntar ideias, a formar sonhos.
... Na verdade, esta equipa (Académica Pinhalnovense) que começa
apenas com um pouco de entusiasmo, rapidamente se transforma na coqueluche da
juventude da altura. Atinge um plano de valor verdadeiramente invejável para a
época”...
No
princípio, eram os jogos de futebol de caris popular que faziam mover a
Académica.
Depois
foram aparecendo outras modalidades; Ténis de Mesa, Atletismo, Andebol, Xadrez,
Tiro ao Alvo, Futebol de Salão, Pesca Desportiva.
Um dos momentos grandes vividos pelos
academistas, acontece a cada ano, no dia 10 de Junho. Para além de ser dia de aniversário é
o tempo em que os menos novos encontram os mais jovens, numa confraternização
que também serve para 'mostrar' a esses jovens, passagens de pedaços da história da Académica. Cada um desses tempos tem o seu
encanto.
Um dos
mais marcantes aconteceu em 10 de Junho de 1964. Foi a apresentação pública da
bandeira da Académica.
Trinta anos mais tarde, no «linha do sul» de Julho de 1994, o José António Cabrita, quis deixar o
testemunho da vivência de um 10 de Junho, passado no Gradil aldeia saloia perto
de Mafra, compondo um trabalho de que transcrevemos parte e a que deu o
sugestivo título de:
AS “COISAS” DE QUE
SE FAZ O NOSSO SÍTIO
“Às oito horas de uma risonha manhã de
primavera quase a despedir-se, daquelas que o sol, há não muitos anos ainda
orvalhado pelo musgo do Olho Ferrenho e coado de frescura pela ramaria suave do
pinheiral imenso, fazendo percurso pela Ponte de Pedra, vem, lá dos lados da
Salgueirinha, espraiar-se pela fachada harmoniosa da estação e rebrilhar as
cenas evocadas nos seus magníficos azulejos, lá estavam eles, os academistas.
Os olhos inquietos buscando os olhares dos outros e o sorriso das
saudações amigas a encontrar sempre
um sentido mais ou menos efusivo; as primeiras recordações de outros encontros
esboçam protagonismos generosos enquanto se lastima uma ou outra ausência, desta
vez.
É assim quase todos os anos. Em cada
10 de Junho, a Associação Académica Pinhalnovense (é este e não qualquer outro
o nome que lhe quiseram os seus progenitores), a pretexto de comemorar o seu
nascimento, vem assegurando uma espécie de ‘continuidade genética’ e de
‘continuidade tradicional’, que, porventura, distingue o grupo de outros grupos
similares, de que, nas intenções ou na temporalidade, desde sempre houve
notícia em Pinhal Novo.
A festa, que é de uma festas que se
trata também, entronca numa estrutura mínima, cuja rede de elementos simbólicos
pode muito bem orientar a busca de uma compreensão, simples que ela seja, para
uma teia de solidariedades em que a estabilidade se busca e legitima na
manutenção e na visibilidade das ‘ligações… (quase) … primordiais entre os
festeiros. À festa não faltam aliás, os mordomos, mutantes em cada ciclo como é
usual, honraria que este ano coube ao Ezequiel Firmino e ao João Camacho. E
sendo o costume passar testemunho com mérito acrescentado, honra lhes seja feita
a preceito.
O primeiro momento é, pois, o da
reunião do grupo e sempre no mesmo lugar, que não um lugar qualquer. No
’Largo’, coração das nossas ‘doze veias férreas’, pelo menos (e será pouco?! …)
no dizer de um poeta, bem junto à ‘Estação’ que é o ainda salubre dos nossos
‘dois pulmões’, que o outro está ‘em vias de secar na Salgueirinha’. Podia ser
no ‘Santa Rosa’ ou no ‘coreto’, no ‘chafariz’ ou na estrada dos ‘espanhóis’,
onde era a ‘Mitra’ ou talvez na ‘Ilha Brava’, mas tem de ser num lugar com um
tamanho destes. E é neste espaço que se descobre o móbil para a festa deste ano
de 1994; trinta e oito anos de vida da Académica e trinta anos da sua actual
bandeira, estranhamente ausente por razões que se deseja ultrapassar a breve
trecho, estreada que foi numa colorida e solene festa, em Pinhal Novo , a 10 de
Junho de 1964, com o velho Grupo Desportivo da CUF a abrilhantar. O passo
seguinte constitui uma emocionada evocação do passado e da saudade junto dos
que partiram sem retorno. Espaço de pertença comum, o cemitério de Pinhal Novo,
testemunha então o escorrer sentido de uma ou outra lágrima mais rebelde ou o
desfazer custoso dos nós de muitas gargantas, enquanto as flores se acarinham
por sobre as campas dos amigos queridos que, num dia qualquer, não importa por
quantas vezes, vestiram a camisola negra da Académica. Sem eles a festa não
tinha sentido…..
Este ano, quando o
grupo se recompôs, acomodado num autocarro avisadamente cedido pela autarquia
municipal ao abrigo do seu programa normativo de apoio ao movimento associativo
e em cuja parte de trás se instalou rapidamente uma verdadeira tertúlia
preparada para ser sábia e quase exclusivamente regida, como é hábito nestas
ocasiões de contar histórias, pelo Joaquim Ferreira Dias, já se ia a caminho de
Gradil, aldeia saloia perto de Mafra, onde, no parque de jogos do Desportivo
União Gradilense, um grupo de amigos recebeu fidalgamente a comitiva
pinhalnovense.
O jogo continua e,
agora, é o futebol, ideia manifesta que deu sentido ao grupo, o seu pretexto. Quase
sempre são dois encontros num só, porque a peça que vai à cena vale,
evidentemente, pela representação do momento, mas vive também das mil recordações
de outros tempos, pelos gestos rituais que se repetiram vezes sem conta no
passado, pelo cheiro retomado do balneário, pelo afinar repetido de últimas
estratégias não muito convencidas, pela dúvida de que o corpo acompanhe o que a
vontade deseja, pelo entrar no campo que teve que ser sempre com um pé e não
com o outro, pelo soslaio do olhar para os que ficaram de fora com uma vontade
danada de entrar, pelo desejo de ver se qualidades alheias ainda permanecem à
medida das nossa, pelo abraço do golo ou pelo consolo da falha que permanecem
iguais(…) O regresso a Pinhal Novo foi mais sossegado, mas parece que é sempre
assim que se vem da festa(…)
Ao anoitecer, já o
cheiro familiar das pinhas, “…das vinhas e dos quintais …” tão conhecidos andavam no ar, quando o João
Camacho, à guisa de balanço e de saudação, pegando no microfone do autocarro,
resumia, de forma simples mas intensa, a máxima daquele dia e a pulsão fremente
daquele grupo: “Até p’ró ano, malta! Não
é só pela Académica, é mais, porque é isto que me vai permitindo manter os
laços que me ligam à terra que me
viu nascer…”.
***
É compreensível que
a história de uma colectividade com 59 anos de vida, necessita de muito mais
espaço e tempo para ser contada. Como se escreveu no início a finalidade era
contar alguns retalhos da vida da Associação.
***
José Manuel Cebola, Agosto de 2015
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