O ALTAR-MOR DA CAPELA DE SÃO JOSÉ




O Altar-Mor  da capela de São José

O altar-mor que actualmente se encontra na  capela de São José de Pinhal Novo pertenceu à igreja de Santa Cruz do Barreiro, tendo vindo para Pinhal Novo já depois da implantação da República.
É referido o ano de 1913 como da vinda do altar-mor para Pinhal Novo. Esta data encontra-se mencionada numa pequena publicação sobre a Igreja de Santa Cruz, da autoria do padre José Mahon, publicada no ano de 2001.
Se consultarmos «O Barreiro Antigo e Moderno» da autoria de Armando da Silva Pais e editado pela Câmara Municipal do Barreiro no ano de 1963, não é indicada uma data que permita situar a saída do altar-mor. Podemos ler na página 58:

“Em face da agitação política que se avoluma já nos fins do século XIX, difícil se tornou depois a missão do pároco da freguesia de Santa Cruz..
(...) Já desprovida de todas as imagens, objectos de culto e alguns ornamentos (uma parte vendidos, outra entregue, a título de simples depósito, à Irmandade de Nª Senhora do Rosário, que mantinha a sua sede em Lisboa o que muito serviu para salvar do mesmo destino a sua Igreja), o edifício de Santa Cruz foi vendido pelo estado a um particular do Barreiro, em 17 de Junho de 1917 pela quantia de esc. 8 801$00.





(...) A obra de talha da capela-mor, que era rica e belíssima, não se perdeu. Porém; já não se pode admirar, infelizmente, nesta igreja.
Tendo sido adquirida por um antiquário de Lisboa, foi por este cuidadosamente retirada e vendida, ainda em muito bom estado de conservação, para a capela que serve de Paroquial da freguesia de Pinhal Novo» (...)

Um pequeno reparo a respeito desta transcrição, para deixar registado o seguinte:

A Freguesia de Pinhal Novo foi criada em 7 de Fevereiro de 1928, pelo decreto nº 15004.  

A Paróquia seria criada 36 anos depois, em 22 de Novembro de 1964, por decreto do senhor Cardeal Patriarca:


A montagem do altar obrigou a alterações profundas na capela-mor onde iria ser colocado, originando a alteração da geometria do edifício.
Sendo certo que veio da igreja de Santa Cruz, pelos motivos já expostos e relacionados com a implantação do regime Republicano seria interessante tentar conhecer a época de construção do altar. Com essa finalidade, encetámos algumas pesquisas que nos conduziram a alguns dados sobre a obra.
Em 1751, assim era descrita a igreja de Santa Cruz e o seu recheio:

“No meio da vila do Barreiro, está fundada a paróquia de que é Orago a Santa Cruz. Tem cinco altares. No maior está o Sacrário, feito de talha dourada e por cima tapa a boca da Tribuna um painel de Santa Cruz. No período de 1875-1877, sofreu este templo uma reconstrução de grande vulto. O altar-mor e os outros foram totalmente restaurados.
Com a chegada do regime Republicano em 5 de Outubro de 1910, a igreja foi encerrada e os bens arrolados e confiscados. Já desprovida de todas as imagens e objectos de culto, o edifício foi vendido pelo Estado a um particular do Barreiro.

A época de construção do Altar.

Para nós, leigos na matéria, supúnhamos que o altar teria grandes possibilidades de ser o mencionado em 1751, mas eram apenas suposições nossas. Foi necessário procurar quem nos pudesse ajudar.
Quero mencionar os nomes de Joana Dias e de Jorge Costa, pela ajuda que prestaram.
Passo a transcrever parte do relatório elaborado pela Joana Dias e os seus colegas, técnicos da CROA.
“A arte dos séculos XVII e XVIII é habitualmente inserida no denominado estilo barroco, sem prejuízo da existência de outros estilos no mesmo período, referentes a uma ou outra realidade artística mais específica ou mais restrita. É assim que surgem designações como estilo nacional, referente à talha, ou estilo joanino, designando a arte cortesã de D. João V.
O altar da capela de Pinhal Novo insere-se certamente no século XVII, estilo nacional, apesar das inúmeras alterações com que se encontra actualmente. Nesse período seiscentista, a talha é o meio de expressão artístico mais beneficiado pela Reforma Católica, que finda apresentar alguns símbolos relacionados com a Eucaristia, como os cachos de uvas e as folhas de videira existentes nas colunas de fuste espiralado, ou mesmo as folhas de acanto e a flor-de-lis que revestem praticamente todo o altar. A decoração é típica do século XVII pela sua característica de ausência de movimento, estática e muito estilizada, surgindo a mesma decoração com os mesmos motivos no século XVIII, embora com outras características de movimento e mais pormenorizadas do que estas.
É muito provável que este retábulo se encontrasse originalmente revestido a folha de ouro, ou mesmo a folha de prata com banho de ouro nos motivos dos relevos, sendo que no fundo das colunas se poderá encontrar igualmente imitação de marmoreado.
O retábulo do altar é então constituído lateralmente por duas colunas de cada lado, de fuste espiralado, encimadas por arco de volta perfeita característico do estilo românico, abrindo-se no centro uma tribuna escalonada, ocupada num segundo plano por um trono de forma piramidal. Nas duas laterais do retábulo, entre as duas colunas, são também visíveis dois nichos onde estão colocadas duas esculturas, também elas já intervencionadas. A escultura do lado direito em relação ao observador, apresenta fortes características do século XVII. Já a escultura do lado esquerdo, diria que muito provavelmente pertencerá ao início do século XVIII, demonstrando já um maior movimento expressivo”.

Ficamos a saber que o altar-mor da capela de São José de Pinhal Novo, é uma obra de arte datada do século XVII, que até ao ano de 1910 foi o altar principal da Igreja Matriz de Santa Cruz do Barreiro e que veio para Pinhal Novo no ano de 1913...
Esta informação sobre o ano de 1913, (para a qual já chamámos a atenção) como sendo a vinda do altar para Pinhal Novo, não a conseguimos confirmar.
O livro (LIvro dos Mesários) que relata os primeiros 39 anos da capela de São José, termina exactamente em 1913 e, nada tem anotado que informe da chegada desta peça de arte.

Podemos acrescentar neste pequeno apontamento sobre o Altar-Mor da capela de São José que o mesmo será a  mais importante peça de arte que se encontra exposta ao público na nossa terra.

1 comentário:

  1. Caro José Cebola,
    Cabe-me felicitar-te pela criação do teu blogue que se constituirá certamente como um importante contributo para a divulgação da memória da nossa terra.
    Como te cheguei a referir este é o meio mais adequado para divulgar todo o conhecimento e acervo do passado de âmbito histórico, antropológico e sociológico do Pinhal Novo que foste recolhendo ao longo do tempo junto das pessoas mais velhas e nos mais diversos arquivos.
    Continua com ânimo este trabalho que pode ser um valioso elemento de ligação com todos aqueles que nasceram, que vivem e viveram e também daqueles que gostam do Pinhal Novo.
    Um abraço caramelo,
    Raul Bernardo Mourato Ramos Gouveia

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