JOÃO COELHO POSSANTE

João Coelho Possante
(1934 – 1993)

“Homem simples, nunca alardeava do seu imenso saber e experiência. Pelo amor que sentia por Pinhal Novo, aqui lhe deixamos esta reparação, uma homenagem simples, como ele gostava das coisas, e com um grande abraço de despedida inconsolável”.       (A. de Sousa,«linha do sul» Set. 1993)
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João nasceu em Galveias, Ponte de Sôr, a 21 de Fevereiro de 1934. Filho de Armando Rebelo Possante e de Francisca Marques Coelho.
O pai, Armando, abraçou a carreira de alfaiate que já vinha do tempo de seu pai Amaro Possante.
O casal Possante, teve quatro filhos.
O João, a Joana, a Joaquina e a Severina.
O alfaiate Armando, tinha na música a sua paixão e integrava a banda da Sociedade Filarmónica Galveense.
O filho João Possante entrou na música, em simultâneo com a frequência da escola primária.
No ano de 1947, João Coelho Possante com 13 anos, já integrava a banda de Galveias. Nesse ano, houve uma deslocação da banda a Lisboa, e o João deu nas vistas aos responsáveis da banda do Ateneu Ferroviário. Foi convidado para integrar a banda do Ateneu, e segundo conta a sua irmã Severina, já não voltou com a banda para Galveias, tendo ficado em Lisboa na casa de um familiar.
A partir dessa data, passou a actuar pela banda do Ateneu Ferroviário.
De seguida, o pai Armando arranjou trabalho em Lisboa, e trouxe a família para a capital, onde se manteve durante cerca de um ano.
No final dos anos quarenta, Armando Possante, escolheu Pinhal Novo para viver, muito provavelmente por influência de familiares que aqui já se encontravam.
Os familiares eram a sua cunhada Sílvia Coelho e o marido, António Augusto, ferroviário, que já moravam em Pinhal Novo há algum tempo.  
No princípio, o senhor Armando desempenhou funções de contínuo, a tempo inteiro na Sociedade Filarmónica União Agrícola.
O jovem João foi aprender o ofício de carpinteiro-marceneiro na oficina do senhor Augusto Bragança (Augusto dos Santos Júnior).
A família por essa altura habitava numas casas da senhora Maria Filipa (Maria Vidal Caçoete).
Essa casa ainda hoje está de pé e fica ao lado da actual rua Bartolomeu Dias, no monte que foi pertença do senhor Mário Cardoso. Naquela época era difícil o acesso ao monte, que ficava  muito longe do centro da aldeia, o que não permitia que o senhor Armando pudesse arranjar clientela como fora a sua intenção ao vir para Pinhal Novo.
Quando o João interrompia o trabalho na oficina, para ir ao almoço a casa, tomava o caminho (hoje chama-se rua Antero de Quental) que passando a sul da Ilha Brava o levava até à extrema entre a “Quinta do Pinheiro” e a fazenda do Farronquita, (onde hoje se situa a rua José Agostinho Carreira) que ficava do lado norte da quinta. Seguindo esse caminho para nascente no sentido de dois sobreiros (hoje só existe um) para atingir o aceiro de dava acesso à casa onde vivia.
Quando passava perto da “Quinta do Pinheiro”, quase sempre via no interior da quinta uma garota, que certamente também reparava no João. Essa jovem, de nome Rosalina, filha do guarda da quinta, foi a mulher com quem João Possante viria a casar, em Novembro de 1959.
Desse enlace, nasceram dois filhos, o João e o Armando.
Com 13 anos, na Banda de Galveias

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Foi rápida a integração de pai e filho na banda da SFUA de Pinhal Novo, nessa altura regida pelo maestro Cavaco.
João Possante passou também a fazer parte de alguns conjuntos musicais que foram sendo criados em Pinhal Novo.
Esteve no «Quinteto Cristal» que era composto por Francisco Amorim, Francisco Justino, Manuel Fialho, Mário Macau e João Possante. Depois no «Costa D’ouro», que para além do João Possante, tinha no seu elenco Arnaldo Mendes, Álvaro Amaro, Manuel Francisco Curado, José Artur, o senhor Costa e uma senhora que era a pianista. Este conjunto “Costa D’ouro, actuava normalmente na zona de Lisboa e era uma mescla de alguns elementos do “Pérola Azul”, com o senhor Costa e a pianista.
Entre os anos de 1950 e 1958, foi “gaiteiro” assíduo no círio da Carregueira. Aproveitando essa experiência, criou um grupo musical chamado «Gaiteiros do Pinhal Novo» que se deslocava para fora do distrito de Setúbal para abrilhantar festas populares, ligadas a romarias. Esse agrupamento era composto por 4 elementos, que utilizavam gaita-de-foles, clarinete, saxofone e bateria.
Também se encontram referências a João Possante como fazendo parte do elenco teatral da SFUA, que no ano de 1953, em 26 de Abril, actuando para benefício da Comissão Paroquial de Melhoramentos, apresentou duas comédias e um acto de variedades.
«Choro ou Riso» – comédia em um acto.
«Tinta Entornada, Desgraça Certa» – comédia em dois actos. Foram interpretes:
Manuel de Oliveira, Maria Rita Cravinho, Manuel Frederico, Maria Graciete Domingos, Manuel Fialho, Maria Lourdes da Silva, João Possante, Amélia de Sousa, Eulália de Sousa, Maria Amália Parra, Maria Libânia Patinhas, Ema Cravinho, Maria José Abelho Franco, e Jerónimo Silva. Ponto, Júlio de Oliveira, contra-regra, Jorge Roque, encenação de Jaime Godinho.
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O pai, desejava que o filho João seguisse a profissão de alfaiate, que era tradição familiar, pelo menos desde o avô Amaro.
O João não estava muito interessado em seguir as preferências do pai, quanto ao seu futuro.
Acabou por acontecer um “desencontro” de alguma dimensão, que levou João Possante a abalar para Lisboa. 
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Muitos pinhalnovenses estarão lembrados de João Possante, como habitante de Pinhal Novo e como músico. Mas muito naturalmente não terão tido conhecimento de quais as suas aspirações artísticas.
Recuperemos uma entrevista de 1969, editada na revista «Plateia» de 5 de Agosto, em que com clareza, o João mostra o rumo que deseja seguir na sua vida artística.
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João Possante, dos «Cantares de Portugal» para «Portugal a Cantar» e o sonho de ser cantor lírico.

“Chama-se João Possante e não é um artista conhecido do grande público.
Após dez anos de actividade regular no conjunto «Cantares de Portugal», dirige agora um agrupamento semelhante denominado «Portugal a Cantar».
Modesto, sorriso tímido a aflorar-lhe os lábios, João Possante ficou na expectativa das perguntas que resolvêssemos fazer-lhe...
- Deixar um conjunto, ao fim de dez anos, não suscitará uma justificação?
- Não...Nada disso. Não se passou nada de anormal, continuo amigo de todos os meus ex-colegas do «Cantares de Portugal», e se abandonei o conjunto foi apenas para tentar acabar o meu curso do Conservatório... As constantes digressões do «Cantares de Portugal», impediam-me de levar a sério aquilo que primordialmente me interessa; frequentar o Conservatório com aproveitamento, de forma que dentro de algum tempo possa vir a ser o cantor lírico que sempre desejei ser...
Este agrupamento – privativo do «Lar Português» - tem a sua actividade estabilizada aqui, o que me permite frequentar as aulas e preparar-me convenientemente.
E com um sorriso malicioso:
- Como vê, não há nada de sensacional para relatar...
- De sensacional, não diremos... Mas porquê essa preocupação pelo folclore num futuro cantor lírico?
- Adoro o folclore. E mais, penso que o folclore português é riquíssimo e tem ainda muito para dar...Ficarei muito feliz se conseguir ajudar a extrair dele algo desse “muito”.
- Crê, honestamente, que os jovens componentes do seu actual agrupamento, têm possibilidades de ir longe?
- Mas absolutamente... Somos uma pequena família e trabalhamos devotadamente para um “todo”...Se conseguirmos manter estes atributos e se a ninguém esmorecer o entusiasmo para evoluir, penso que «Portugal a Cantar», poderá, num futuro muito próximo, vir a melhorar bastante o nível das suas interpretações.
- Quem são os seus actuais companheiros?
- Os acordeonistas são a Antónia e o Mateus e os bailarinos a Lena e o Renato...
- Além de você, claro, que é o “chefe”...
- Apenas um colega mais experiente que se aproveita da “rodagem adquirida ao longo de dez anos, para ensinar o que puder...
- O público das casas de fados aceita bem estes conjuntos ou o vosso trabalho é destinado quase exclusivamente aos estrangeiros?  
- Antigamente talvez fossem quase apenas os estrangeiros a repararem em nós, mas agora não...O público português já se habituou ao folclore e não há dúvida de que o aceita e aprecia devidamente.
Prestes a terminarmos – o «Portugal a Cantar» voltava ao palco para uma das suas intervenções daquela noite – ainda perguntámos:
- Não chegámos a falar em “dinheiros”...
- Como já lhe disse, adoro esta vida mas como não tenho fortuna pessoal, se ela não me desse “para viver”, já a teria abandonado, não acha”?...

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João Coelho Possante, a morte do Mestre
(do jornal «O Sporting»)

Quando faleceu, em 30 de Agosto de 1993, João Possante era o maestro do grupo coral do Sporting Clube de Portugal.
Frequentou a Academia dos Amadores de Música, Conservatório Nacional e Instituto Gregoriana de Lisboa, onde à data do seu falecimento exercia funções docentes como responsável pelas disciplinas de Educação Musical e Canto Gregoriano.
Era possuidor de vasta experiência de direcção musical e autor de harmonização de numerosas melodias de carácter popular e litúrgico, sendo também autor da música de o «Hino do Sporting», com letra de José Branquinho.

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A homenagem do «linha do sul»
O mensal pinhalnovense «linha do sul» na sua edição de Setembro de 1993, pela pena do seu director, Aníbal de Sousa, lembra a figura de João Coelho Possante, e dá à estampa o seu vasto conhecimento adquirido.
Termina a sua singela homenagem, escrevendo a introdução que se encontra no início desta pequena crónica.
Praceta João Coelho Possante (Musicólogo)
Em 21 de Abril de 2001, pelas 17.00 horas, foi descerrada uma placa toponímica, que deu o nome de João Possante a uma praceta na zona do Monte Novo.

Englobado nas comemorações dos 50 anos da Associação dos Bombeiros Voluntários de Pinhal Novo, nesse dia 21 de Abril, pelas 21.00 horas, foi inaugurado o Auditório dos Bombeiros após remodelação, com um concerto de homenagem a João Coelho Possante.

Foram intérpretes nesse concerto; a pianista Luíza da Gama  Santos e o solista Armando Possante, filho do homenageado.

                       ***                                                                                                             Nesta crónica contei com a colaboração das irmãs  Joana e Severina Brás.

                                                                                                                                      JoséManuelCebolaDezembro2017

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