Padre
O padre Jacinto, chegou a Pinhal Novo em 16 de Setembro de 1951 e
apresentou-se ao presidente da Junta de Freguesia da altura, senhor Francisco
de Almeida tendo tomado posse do lugar de pároco a 17 de Setembro.
A sua primeira missa em Pinhal Novo , teve lugar a um domingo, dia 7 de Outubro de
1951.
Nesse domingo, tudo parecia diferente…mas o som que sempre se ouvia
antes das missas, mantinha-se igual ao de todos os outros dias.
Era o som que nascia do ritmo cadenciado imposto ao badalar do sino
e não enganava. O experimentado sacristão João Faria, era quem aplicava à corda
do sino aquela cadência de impulsos para lembrar aos devotos que deviam
comparecer na missa, que nesse dia, também incluía a apresentação de um novo
padre, que vinha preencher a vaga deixada após o falecimento do padre Francisco
Emílio.
A curiosidade, a devoção e o intuito de bem receber, recomendavam
que as figuras da terra também marcassem presença no serviço religioso.
Ainda ecoavam no Largo as badaladas do sino, quando os primeiros
fiéis começaram a aparecer, rumando à capela.
Quando a missa se iniciou, para além dos devotos que costumavam
assistir à missa aos domingos, estavam presentes o presidente da Junta de
Freguesia, Francisco de Almeida, o vereador municipal Álvaro Tavares, o
encarregado do Registo Civil, Manuel Agostinho Loureiro, a directora da escola
feminina, professora Antónia de Jesus Moga, a directora da escola masculina,
professora Avelina Pires Leitão e mais professores acompanhados dos respectivos
alunos.
O ano escolar oficial tinha começado na segunda-feira anterior e os
professores tiveram tempo para avisar e organizar os seus alunos para que
comparecessem devidamente arranjados com a bata branquinha, na missa de
domingo.
Também estavam presentes os representantes da Sociedade Filarmónica
e da jovem Associação dos Bombeiros Voluntários de Pinhal Novo.
Após ter terminado o acto litúrgico, o padre foi cumprimentado pelas
“figuras da terra”, que lhe desejaram felicidades no desempenho da sua missão.
Jacinto
Gonçalves Pedro acabara de fazer 29 anos e vinha para Pinhal Novo para iniciar
o seu sacerdócio, certamente com muitas ideias e também com a curiosidade do
que poderia encontrar nesta terra de ferroviários e de gente dos campos, que tinham por hábito estar presente na missa.
O
padre Jacinto, havia nascido em 28 de Agosto de 1922, na freguesia de
Mouriscas, concelho de Abrantes. Era filho de António Gonçalves Pedro e de
Maria Baptista.
Entrou
para o seminário de Santarém em 1936, e foi ordenado sacerdote, na Sé de
Lisboa, em 29 de Junho de 1951.
Nos
primeiros tempos, ficou a viver na Herdade de Rio Frio até que se mudou para Pinhal
Novo, ficando a viver numa casa destinada aos padres que por aqui “passavam”e
era abastecido pelos responsáveis da casa de Rio Frio.
De
lá vinha o pão, os legumes, a carne, a lenha para o fogão, etc.
Depois
de haver conseguido a adesão de alguns
jovens, criaria a Conferência de São Vicente de Paulo de Pinhal Novo, em
Dezembro de 1951.
A
grande maioria desses jovens voluntários, desempenhariam papel importante na
manutenção da Conferência ao longo de alguns anos. Embora correndo o risco de
involuntariamente deixar alguns nomes de fora, vou citar alguns que fizeram
parte da Conferência entre 1953 e 1957; António Brinca Borralho, Fernando
Bórgia, António Jacob Franco, Gilberto Domingos, Carlos Querido, Júlio Basílio,
Guilherme Gama e outros.
Mais
tarde, o padre Jacinto estaria também na criação do Corpo de Escuteiros de Pinhal Novo.
Livro de Actas da Conferência de São
Vicente de Paulo de Pinhal Novo
referente aos anos de 1954 /1957.
referente aos anos de 1954 /1957.
Acta nº 119
Na
reunião efectuada em 15 de Novembro de 1954, realizada na sede da Conferência
de São Vicente de Paulo de São José da freguesia de Pinhal Novo que decorreu
sob a presidência do confrade Borralho, e na presença dos confrades; Guilherme,
Gilberto, Jacob e o simpatizante Querido, o Reverendo Padre Jacinto Pedro usou
da palavra para comunicar;
[…]
“que tinha pedido à Casa Santos Jorge, o
terreno para a obra que temos em vista. O Sr. Balé, a quem foi feito o pedido
mostrou-se interessado, dizendo que, ia falar do assunto ao Sr. Samuel dos
Santos Jorge”. (palavras do R. P. Jacinto).
Fez-se a maquete da obra que esteve em exposição na SFUA e deu-se depois início à recolha de donativos para a construção. Estávamos no ano de 1956. 
*
*
O Dia do Cortejo
Na tarde do dia18 de Novembro de 1956, pelas ruas de Pinhal Novo, foi organizado um cortejo com as oferendas e de seguida houve a exibição de jovens que apresentaram danças e cantares de raiz popular. À noite no Largo José Maria dos Santos,houve exposição e leilão das ofertas, o que rendeu perto de 22 contos, conforme informação colhida junto de quem esteve nesse trabalho.
.
Reviravolta
No final do ano de 1958 aconteceu a surpresa.
O padre Jacinto “abandonou” Pinhal Novo.
O padre Jacinto “abandonou” Pinhal Novo.
Nessa data eu era um jovem que tal como outros, tivemos conhecimento deste assunto, tomando como notícia aquilo que se passou a propalar sobre o padre após a sua abalada.
O padre Jacinto Gonçalves Pedro depois de deixar Pinhal Novo, foi nomeado para a Caparica, sendo o trigésimo-segundo prior da paróquia.
Entre 1958 e 1962,por sua iniciativa, foi edificada a residência paroquial anexa à igreja. Exerceu grande actividade religiosa e foi muito estimado pelos paroquianos. Foi seu coadjutor o irmão, padre Manuel Gonçalves Pedro, que se ocupou principalmente do serviço religioso da Trafaria.
O povo diz: "a verdade é como o azeite, vem sempre ao cimo".
Com o passar dos anos, sempre que o assunto do Asilo servia de conversa, as dúvidas começaram a nascer.
Então um padre que chega a Pinhal Novo, tem a ideia de construir um “asilo” e quando tudo parece caminhar sobre rodas, pede para sair de Pinhal Novo?
Os boatos foram imensos e relacionados com a falta do dinheiro…!
Então um padre que chega a Pinhal Novo, tem a ideia de construir um “asilo” e quando tudo parece caminhar sobre rodas, pede para sair de Pinhal Novo?
Os boatos foram imensos e relacionados com a falta do dinheiro…!
No princípio deste século XXI, “caiu-me” nas mãos uma escritura, em que se mostrava que afinal o terreno que esteve destinado para a construção do Centro Paroquial de Assistência, (era assim que “o Asilo” era chamado nos papéis oficiais) foi comprado a Samuel Lupi dos Santos Jorge e a Maria Cândida Lupi dos Santos Jorge, por 18 contos no ano de 1957. A compra foi feita em nome da Fábrica Paroquial de Palmela, representada pelo padre Jacinto Pedro, porque nesse tempo ainda não existia a paróquia de Pinhal Novo.
A ESCRITURA
«Livro 17-A do Cartório Notarial
de Montijo, folhas 37, 38 e verso».
“No dia 18 de Fevereiro de 1957,
nesta vila e Concelho de Montijo, e Cartório Notarial a meu cargo, situado na
Praça da República, perante mim Luciano Pereira, notário do Concelho, e as
testemunhas idóneas, adiante nomeadas e assinadas, minhas conhecidas; compareceram
como outorgantes:
Primeiro, o senhor doutor António
Gonçalves Rita, casado, advogado, residente nesta vila, outorgando na qualidade
de bastante procurador de Samuel Lupi Santos Jorge, solteiro maior, natural da
freguesia de Belém, Concelho de Lisboa, e Dona Maria Cândida Lupi Santos Jorge,
viúva, também natural da freguesia de Belém, proprietários, residentes em
Lisboa na rua Mouzinho da Silveira nº 24(...)
Segundo, o senhor padre Jacinto
Gonçalves Pedro, solteiro, maior, residente no lugar e freguesia de Pinhal
Novo, Concelho de Palmela, outorgando em nome e em representação da Fábrica
Paroquial de Palmela e com poderes especiais para este acto, como consta do
despacho de Sua Excel. Reverendíssima, o senhor Cardeal Patriarca de Lisboa,
cujo certificado passado em 14 do corrente em 14 do corrente mês, pelo Chefe
dos Serviços Administrativos do Patriarcado de Lisboa, me apresentou e
arquivo(...) Pelo primeiro outorgante, senhor
doutor António Gonçalves Rita, foi dito; Que os seus ditos constituintes são
donos e possuidores dum prédio rústico no sítio da Sesmaria da Venda do
Alcaide, freguesia de Pinhal Novo, descrito na Conservatória do Registo Predial
da Comarca de Setúbal, sob os números 10404 e 10405 do livro B-37 e inscritos
nas respectivas matrizes sob os artigos 579 e 580, como consta da escritura
lavrada a folhas 53 e verso....que assim pela presente escritura, e na
qualidade em que outorga, vende à Fábrica Paroquial de Palmela, aqui
representada pelo segundo outorgante, de hoje para sempre com todos os seus
pertences e servidões uma porção de terreno daquele referido prédio, a qual
fica a constituir um prédio distinto na Freguesia de Pinhal Novo, com a área de 1894 metros e se destina à construção do centro Paroquial de Assistência da quadrados ,
e que confronta pelo norte com Agostinho da Silva e outros, pelo sul e poente
com via pública e pelo nascente também com Agostinho da Silva e outros (...) Que
faz esta venda pelo preço de 18.000 escudos que já recebeu da compradora e de
que lhe dá a correspondente quitação; e, por isso, lhe cede e transfere todo o
domínio, direito, acção, posse e usufruição que até agora os seus ditos
constituintes têm tido no terreno aqui vendido.... pelo segundo outorgante,
senhor padre Jacinto Gonçalves Pedro foi dito:
Que aceita para a sua representada,
Fábrica Paroquial de Palmela, a venda, quitação do preço e obrigações
exaradas(...) Assim o disseram e outorgaram, do que dou fé”.
Ao
ler a escritura de que acabei de transcrever parte e que me relembrou a
“história” da saída do padre Jacinto de Pinhal Novo, curioso fiquei em
tentar aprofundar a razão ou razões que tinham estado na base da saída do padre
de Pinhal Novo.
Na
altura 'alinhavei' um pequeno fascículo como título de «Caderno de Memórias» no qual tentava explicar o que julgava se
havia passado para justificar a abalada do padre Jacinto e também para ouvir por parte dos que estivessem interessados algo de esclarecedor!
Alguém enviou ao padre um desses fascículos e como resultado, recebi um carta do padre Jacinto onde era convidado para me deslocar até Praia do Ribatejo.
Escrevia-me o padre:
"Ao ler o Caderno de Memórias, reavivou-se-me a memória; mergulhei no passado de cinquenta e seis anos. (...) A iniciativa do José Cebola foi a melhor resposta às envenenadas perguntas que se publicaram. Dou os parabéns ao amigo Zé, pela iniciativa, pelo rigor da investigação e pela coragem de enfrentar gente sem sentido da verdade e o rigor do que dizem e publicam. Vou ter a grande alegria, na quarta-feira, dia 1 de Agosto no encontro e dar-lhe um abraço" (...) padre Jacinto Pedro
E no dia 1 de Agosto de 2007, um pequeno grupo de amigos, fomos até Praia do Ribatejo.
Chegou a oportunidade de ouvir da boca do padre Jacinto o que se passou para que abalasse de Pinhal Novo.
Alguém enviou ao padre um desses fascículos e como resultado, recebi um carta do padre Jacinto onde era convidado para me deslocar até Praia do Ribatejo.
Escrevia-me o padre:
"Ao ler o Caderno de Memórias, reavivou-se-me a memória; mergulhei no passado de cinquenta e seis anos. (...) A iniciativa do José Cebola foi a melhor resposta às envenenadas perguntas que se publicaram. Dou os parabéns ao amigo Zé, pela iniciativa, pelo rigor da investigação e pela coragem de enfrentar gente sem sentido da verdade e o rigor do que dizem e publicam. Vou ter a grande alegria, na quarta-feira, dia 1 de Agosto no encontro e dar-lhe um abraço" (...) padre Jacinto Pedro
E no dia 1 de Agosto de 2007, um pequeno grupo de amigos, fomos até Praia do Ribatejo.
Chegou a oportunidade de ouvir da boca do padre Jacinto o que se passou para que abalasse de Pinhal Novo.
Chegou
a minha oportunidade para tirar as dúvidas sobre a saída do padre de Pinhal
Novo no ano de 1958.
Tudo aquilo que o padre me contou, não implicava o povo do nosso sítio, estava relacionado isso sim, com outros acontecimentos e outras pessoas. Eram de alguma gravidade, e foi essa actuação contra o padre que o obrigou a resignar na sua missão de pároco em Pinhal Novo.
Não posso denunciar aqui esses acontecimentos, porque as outras duas pessoas que assistiram à conversa, já não fazem parte dos vivos e eu não teria como provar essas informações.
Só poderei afirmar que tudo o que se falou sobre o Asilo acusando o padre Jacinto, era pura mentira.
Tudo aquilo que o padre me contou, não implicava o povo do nosso sítio, estava relacionado isso sim, com outros acontecimentos e outras pessoas. Eram de alguma gravidade, e foi essa actuação contra o padre que o obrigou a resignar na sua missão de pároco em Pinhal Novo.
Não posso denunciar aqui esses acontecimentos, porque as outras duas pessoas que assistiram à conversa, já não fazem parte dos vivos e eu não teria como provar essas informações.
Só poderei afirmar que tudo o que se falou sobre o Asilo acusando o padre Jacinto, era pura mentira.
Praia do Ribatejo, 1 de agosto de 2007
O padre Jacinto Pedro faleceu em
06 de Junho de 2014. Foi sepultado em Santarém.
José Manuel Cebola, Junho de 2015
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